Teria o Dr. Telmo (sem h*) seguido os pensamentos e conselhos de Voltaire? Possivelmente. Não necessariamente aqueles do filósofo francês, mas de seu próprio pai. Explico: Telmo de Almeida Cruz era filho único do Capitão Médico do Exército Brasileiro, Dr. Voltaire Paiva da Cruz e de dona Diva de Almeida Cruz. Nasceu aqui pertinho, em Caçapava, no dia 4 de dezembro de 1924.
Confesso que nas pesquisas que realizei, não obtive informações sobre sua infância e juventude. Deve ter sido um garoto gentil e um jovem bonitão, já que estas características o acompanharam ao longo da vida.
Saltando no tempo, em 1950, aos 26 anos, graduou-se em medicina na Universidade Federal do Paraná, especializando-se em pediatria em 1953. Concursado, passou a trabalhar na Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, quando se transferiu para Jacareí para clinicar no Posto de Puericultura, na Praça Raul Chaves, onde hoje funciona a Casa da Agricultura. Ali desenvolveu uma das primeiras iniciativas municipais no acompanhamento do processo do desenvolvimento infantil.
Em 1963, quase quarentão, casou-se com Sônia Maria Bonanno, de tradicional família jacareiense. Muito antes de se tornar político, fez muito por nossa cidade, participando do corpo clínico da Santa Casa, sendo seu diretor durante os anos 60/70; foi um dos fundadores do Banco de Sangue em Jacareí e atuou como médico do trabalho em várias empresas como Papel Simão, Oca, Lavalpa, DNER, dentre outras. Membro efetivo da Sociedade de Pediatria de São Paulo, foi um dos fundadores do Centro de Estudos Perinatais de São Paulo. Também colaborou na fundação do Rotary Clube de Jacareí, sendo seu presidente no biênio 1958/1959. Por tantos serviços prestados, recebeu o título de “Cidadão Jacareiense” em 1962 e o “Troféu Jacaré” como “Médico do Ano” de 1968.
Dr. Telmo fez parte de uma geração de médicos que fizeram história na cidade. Meu pediatra sempre foi o Dr. Celso Prado, mas minhas irmãs, certamente, foram cuidadas por ele, ainda mais tendo seu consultório na Ramira Cabral, onde minha família se estabeleceu em 1949. Sempre calmo e atencioso, atendia a todos com muito carinho. Era muito paciente com seus pacientes. E foram milhares em toda cidade.
Médico muito respeitado, daquele que olha nos olhos e atende até de madrugada em sua própria casa, foi convidado a entrar para o mundo político, elegendo-se vice-prefeito na chapa com Toninho Nunes na gestão 1973/1976. Uma década depois, filiado ao PMDB, foi eleito prefeito em duas ocasiões: 1983/1988 e 1993/1996, tornando-se aquele que por mais anos sentou-se na principal cadeira do executivo municipal.
Dr. Telmo, com seu jeito simples e humilde, ficou conhecido como um administrador que marcou sua gestão pela atenção aos mais necessitados. Após criar a Secretaria Municipal de Saúde, expandiu as UBS pelos bairros periféricos. Olhando também para o futuro, idealizou a duplicação das duas avenidas (na época, variantes) que dão entrada à cidade e adquiriu a área central da Rede Ferroviária Federal, incluindo a estação, armazéns e pátio de manobras, permitindo a abertura de novas ruas e espaços públicos, como o Parque da Cidade.
Funcionário Público, pensou também nos servidores da prefeitura municipal, criando o Estatuto do Servidor Público, o Plano de Carreira e o Instituto de Previdência do Município de Jacareí – IPMJ.
Na eleição do ano 2000, foi chamado por seus companheiros da política a integrar os quadros do PPS. Adoentado, sem coligação e com enormes dificuldades para fazer campanha eleitoral, teve escassos 2.771 votos.
Exemplo de vida, Dr. Telmo faleceu em 31 de julho de 2011, aos 86 anos, tendo o corpo velado por centenas de pessoas na Capela da Santa Casa. Deixou a esposa, os filhos Thelmo (com h) e Sérgio, além dos netos Francisco e Dora.
Diante do legado imensurável na área da saúde e da atenção ao funcionalismo público, após seu falecimento, seu nome foi utilizado na láurea para homenagear servidores municipais aposentados. Por fim, aquele que sempre esteve pronto para bem atender, em 2016 foi homenageado na principal Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da cidade. Nada mais justo.
*As regras ortográficas determinam que após o falecimento, nomes próprios se ajustem às normas. Enquanto era vivo, chamava-se “Thelmo”. Após sua morte, o correto é grafar “Telmo” assim como Rui Barbosa (Ruy Barbosa) ou Vitor Meireles (Victor Meirelles).
Jacareiense nascido em 1964, é pós-graduado em Negócios em Mídias Digitais, bacharel em Ciências Econômicas e Servidor do Judiciário Paulista. Ativo pesquisador da história da cidade, é autor do “Dicionário Ilustrado da Cidade”, criador do “Blog de Jacareí – Uma Viagem pelo Tempo” e do “Site de Jacareí – A Cidade em um Clique” além de administrador de grupos no Facebook como “Memórias de Jacarehy”, “Jacareí – Craques do Passado”, “Jacareí para o Mundo” e “Pelas Ruas de Jacarehy”, ferramentas virtuais de comunicação que permitem o aprendizado e o compartilhamento de histórias com seus mais de 60 mil seguidores.
Que história linda desse Dr Telmo, deixando seu legado!
Seria ótimo se tivesse mais pessoas como Dr. Telmo por aqui!
Parabéns Fernando por mais esse relato.
Tenho muito carinho pelo dr. Telmo, foi nosso médico pois meu pai trabalhava na Simão e mais tarde admirava muito seu trabalho como prefeito